sexta-feira, 12 de junho de 2009

Diário de Fernando, Nos cárceres da ditatura militar brasileira




Eis um documento histórico, inédito, que esperou 36 anos para vir a público: trata-se do diário de prisão do frade dominicano Fernando de Brito, prisioneiro da ditadura militar brasileira, ao longo dos quatro anos (1969-1973) em que foi submetido a torturas e removido para diferentes cadeias. Fernando, em companhia de outros frades dominicanos, vivenciou algo inusitado em se tratando de presos políticos do Brasil: foi obrigado a conviver, durante quase dois anos, com presos comuns, em penitenciárias de São Paulo.


Assim como o “Diário de Anne Frank” nos revela a natureza cruel do nazismo, Diário de Fernando retrata o verdadeiro caráter do regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Não se conhece similar entre as obras publicadas sobre o período.


Em papel de seda, em letras microscópicas, e sob risco de punição, Fernando anotava, dia a dia, o que via e vivia. Em seguida, desmontava uma caneta Bic opaca, cortava ao meio o canudinho da carga, ajustava ali o diário minuciosamente enrolado e remontava-a. No dia de visita, trocava a caneta portadora do diário com outra idêntica, levada por um dos frades do convento. O medo de ser flagrado pelos carcereiros e o risco permanente de revistas, fizeram com que Fernando muitas vezes se visse obrigado a destruir as memórias registradas em papel. No entanto, o que vivenciou jamais se esvaneceu, e ultrapassou os muros das prisões.


Frei Betto, seu companheiro de cárcere, resgatou as anotações, deu-lhes tratamento literário e as reuniu neste livro que se constitui num documento de inestimável valor histórico. Nos episódios relatados, a trajetória dos frades se mescla à de personagens que são, hoje, figura de destaque na história brasileira, como Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Caio Prado Jr., Apolônio de Carvalho, Paulo Vannuchi, Franklin Martins e Dilma Rousseff, para citar apenas alguns.


Para quem se interessa em conhecer a verdadeira face do regime militar e o Brasil dos “anos de chumbo”. Diário de Fernando é um testemunho vivo, comovente, de uma de suas vítimas. Não se trata de investigação jornalística, nem resulta da pesquisa de historiador, mas sim de um sincero, emocionante e visceral relato de quem teve a ousadia de registrar, dia a dia, as entranhas de um dos períodos mais dramáticos da história do Brasil. Está tudo ali: as torturas, os desaparecimentos, o sequestro de diplomatas, as guerrilhas urbana e rural, a greve de fome de quase 40 dias, e também a convivência dos prisioneiros marcada por momentos de inusitada beleza: as festas de Natal, as noites de cantoria, a solidariedade inquebrantável entre eles. Diário de Fernando traduz a saga de uma geração que não se dobrou à ditadura e a qual o Brasil deve, hoje, a sua redemocratização. Eis uma obra que enaltece a dignidade humana, a capacidade de resistência frente à opressão e a vivencia da fé cristã como nas antigas catacumbas do Império Romano.




Lançamentos:
No Rio: 15 de junho, segunda, no Esch Café – Rua Dias Ferreira 78, loja A – tel: 25125651. A partir de 19h30.
Em Belo Horizonte: 17 de junho, quarta, no auditório da CEMIG – Av. Barbacena 1.200. A partir de 19h30.
Em São Paulo: 18 de junho, quinta, no SESC Vila Mariana – Rua Pelotas, 141. A partir de 19h30.

2 comentários:

  1. Oi, nossa adorei conhecer o Blog do Frei Fernando... Ele é uma pessoa super especial.... Conheço muitooooo..... Abraço

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  2. Fernando,
    Li atentamente as boas novas que contam do livro e do blog lançados recentemente. Parabéns! Será que não podemos organizar o lançamento do livro por aqui, terras juizforanas? Organizamos anualmente o lançamento da Agenda Latinoamericana-Mundial aqui em Juiz de Fora. Quem sabe não faremos uma dobradinha: Agenda/livro? Em momento que tentam amortecer a ditadura na "dita-brada" da Folha de São Paulo, devemos mostrar à atual e às próximas gerações que "Tortura Nunca Mais". Manifesto o abraço

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