segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Livro "Diário de Fernando" revela entranhas da luta contra a ditatura


RIO - Quatro décadas depois da tentativa de vencer a ditadura militar no Brasil através da luta armada, surge agora um documento gerado nas entranhas daquela batalha que registra, ao mesmo tempo, uma lúcida autocrítica das estratégias utilizadas e detalhes do cruel dia a dia dos presos políticos em cárceres que eram verdadeiras catacumbas. Ele contém, ainda, relatos que exibem, com clareza, a divisão na Igreja Católica a respeito da repressão. Uma ala a denunciava; outra a endossava.
Trata-se do livro "Diário de Fernando", que será lançado nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, contendo minuciosas anotações feitas às escondidas nas celas, ao longo de quatro anos de prisão (1969-1974), por Fernando de Brito, um dos frades dominicanos militantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella.
Até aqui, apenas três pessoas conheciam esse material. Uma delas, Frei Betto, companheiro de cativeiro do autor, foi incumbido por Brito de organizar o material e de dar a ele uma forma literária.
- Tentei tornar legível a outras pessoas tudo o que registrei, mas era muito penoso para mim. A melhor coisa que fiz foi entregar tudo a Frei Betto, que, com muita sensibilidade, soube transmitir a vivência dos presos políticos - disse Brito.
O diário mostra que não demorou muito para que os militantes que lutavam contra a ditadura no Brasil sofressem um choque de realidade. Em especial para os que de guerrilha só conheciam o que tinham lido a respeito.
Sem apoio popular, restou a sensação de ver desmoronar um castelo de areia: "Nossos sonhos não incluíam a possibilidade de derrota. A linearidade dos livros não espelhava os sinuosos e acidentados caminhos do real. Súbito, a casa edificada sobre a areia, sem alicerce popular, ruiu sob o impacto do aparelho repressivo. Prisões, torturas, delações, mortes... o furacão emergiu, inelutável, a partir do sequestro do embaixador dos EUA, em setembro de 1969, no Rio", concluiu Brito.
Retirado de "O Globo" em 13/06/09
Admilson

2 comentários:

  1. Parabéns Frei Fernando e Frei Beto não importa o tempo ter passado sua história de vida não foi em vão permanece viva em nossas vidas. Você Frei Fernando nos ensinou a colocar no caminho na missão. Conheci Frei Fernando quando morou com Pe. Quiquita aqui na diocese de Barra do Pirai e em Volta Redonda.Obrigado Frei Fernando aprendi com você que a vida tem sentido quando colocamos no caminho da missão no mundo.Frei Fernando o mundo está melhor porque você está vivendo nele e com seus amigos que deram a vida em favor de um pais + democratico.Rosa Barra Mansa

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  2. Sou de 1968, época de auge das tensões entre ditadura e setores civis inconformados com a situação do país. Tive uma infância feliz numa família católica que aos domingos frequentava a paróquia da Piedade em Porto Alegre. Lá comunguei pela primeira vez e vi meu irmão caçula ser batizado. Jamais imaginei que aquele local tivesse sido também alvo da repressão. Escrevi isso por que estou curioso para ler o Diário de Fernando.Achei fantástico o livro Batismo de Sangue, assim como o filme.

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